Clica para mudar de cidade

Choose city
EN / PT
Alguns dados e mapas sobre o Alojamento Local em Lisboa e no Porto
Esta página é melhor visualizada num ecrã maior
Carregando mapa…
City landscape image
As cidades portuguesas vivem uma crise de habitação sem precedentes, que avançou de forma galopante nos últimos anos e se tornou insustentável para a maioria dos jovens e famílias. O Alojamento Local (AL), que proliferou na última década com poucos ou nenhuns limites, é apontado como um dos motores desta crise. Esta página pretende mostrar alguns dados e mapas sobre este fenómeno e tentar desfazer alguns mitos, focando-se nas cidades portuguesas onde a crise da habitação mais se faz sentir: Lisboa e Porto.
O rácio ponderado de ALs que utilizamos é calculado através da fórmula definida pela Câmara Municipal de Lisboa:
(ALs + Capacidade de Hostels / 5) / Alojamentos Familiares Clássicos
janeiro 2014
janeiro 2014
0 ALs

O início

O conceito jurídico de Alojamento Local (AL) foi introduzido em 2008, como estabelecimentos que prestam serviços de alojamento temporário e que não reunem os requisitos para serem considerados empreendimentos turísticos. Só em 2014 passou a ser obrigatório o seu registo, inclusive dos alojamentos que já operavam.

O crescimento descontrolado

Desde então, a oferta de AL não tem parado de crescer.
O tamanho dos círculos representa o número de ALs num mesmo edifício

As primeiras tentativas de regulação

Em 2018 foram atribuídas aos municípios competências acrescidas para a regulação do Alojamento Local. Em Lisboa, e mais tarde também no Porto, foi aprovada a suspensão temporária de registos em algumas zonas da cidade com especial pressão urbanística.

No final de 2019, entrou em vigor em Lisboa o Regulamento Municipal do Alojamento Local, criando zonas de contenção absoluta, onde o rácio de ALs por habitação fosse superior a 20%. Nestas zonas foram proibidos (apenas) novos ALs, excepto se se tratassem de operações de reabilitação de devolutos.

O Porto teria de esperar até 2023 para ter um regulamento com o sugestivo nome de Regulamento Municipal para o Crescimento Sustentável do AL no Porto. Esse regulamento estabeleceu áreas de contenção em quase todas as freguesias do centro histórico mas foi suspenso poucos meses depois por aparentemente já não ser necessário.

Pressão popular e novas restrições a nível nacional

Com o agravar da crise, o tema da habitação tornou-se cada vez mais central no debate público. Em 2023, a primeira grande manifestação pelo direito à habitação, Casa para Viver encheu as ruas de país.

Nesse mesmo ano foi aprovado o programa Mais Habitação, que integrou várias medidas no âmbito da regulação ao Alojamento Local, tais como a caducidade dos registos, a implementação de uma contribuição extraordinária, a proibição de novos registos nas principais cidades do país, e a possibilidade de revogação de licenças por decisão dos condomínios.

Sob o pretexto de que as novas regras a nível nacional eram mais restritivas do que as que poderiam ser aplicadas a nível local, a Câmara Municipal do Porto revogou o seu ainda jovem Regulamento Municipal para o Crescimento Sustentável do AL.

O retrocesso

Com mais anúncios do que medidas eficazes, o programa Mais Habitação acabou por ficar na gaveta após a queda do governo de António Costa. Com a entrada do governo de Luís Montenegro, as principais medidas foram revogadas.

Acabou a contribuição extraordinária e a caducidade automática dos registos, e o poder de revogação de licenças por parte dos condomínios foi limitado, passando a aplicar-se apenas a novos registos.

A tentativa de referendo

A par das grandes manifestações pelo direito à habitação, o movimento Referendo pela Habitação começou a recolher assinaturas para um referendo local na capital que pretendia proibir o Alojamento Local em prédios destinados à habitação.

A proposta de referendo, assinada por mais de 5 mil lisboetas e inicialmente aprovada pela Assembleia Municipal, acabou por não se realizar após um parecer negativo do Tribunal Constitucional, tendo a Assembleia Municipal impedido a votação de uma segunda proposta entretanto retificada.

Suspensão de novos registos e alterações à regulação municipal

No final de 2024 foi aprovada em Lisboa a suspensão de novos registos em toda a cidade até à entrada em vigor de um novo regulamento. Este novo regulamento prevê a suspensão total de novos registos em freguesias e bairros com um rácio de AL superior a 5%.

No Porto, foi recuperado o regulamento que tinha sido suspenso e que só limita novas licenças em freguesias com um rácio de pressão de AL superior a 15%.

O mapa completo da monocultura do turismo

Se ao mapa dos ALs acrescentarmos as áreas ocupadas por hotéis e outros estabelecimentos turísticos obtemos uma imagem mais completa do impacto do turismo na cidade.
Os polígonos representam hotéis e outros empreendimentos turísticos

A distribuição de ALs na cidade é muito desigual

Embora o fenómeno se espalhe até às cidades da periferia, nem todas as zonas da cidade são afetadas da mesma forma.
rácio de alojamentos locais por habitação?
menos ALmais AL
Nota: A fórmula de rácio que a Câmara Municipal do Porto utiliza é diferente da de Lisboa, uma vez que não pondera o número de camas em hostels e utiliza o número de contadores de água destinadas à habitação como denominador, resultando em rácios de pressão geralmente mais baixos.

Como evoluiu o número de casas?

As freguesias com maior concentração de ALs são precisamente as que perderam mais habitação na última década.
Evolução do número de alojamentos de habitação (%) 2011-2021
menos habitaçãomais habitação

E o número de habitantes?

Não é de estranhar que essas tenham sido as mesmas freguesias que perderam mais habitantes.
Evolução do número de habitantes (%) 2011-2021
menos habitantesmais habitantes

Como se pode explicar esta quebra?

A quebra do número de alojamentos de habitação na última década é significativa e contrasta com a tendência de crescimento nas três décadas anteriores. Se é certo que há vários outros fatores que contribuem para estes números, também é verdade que se os alojamentos alocados ao AL fossem antes destinados à habitação, o número de alojamentos de habitação teria continuado a aumentar.
Quem ganha afinal com o Alojamento Local?

Os defensores do AL apresentam-no como uma atividade económica conduzida por "pessoas comuns" que procuram um "dinheiro extra" para o seu orçamento familiar.

Embora também existam esses casos, serão assim tão representativos do panorama geral?

Anuncio
Pagina
Outdoor

Apenas 0.63% dos ALs estão registados como quartos

A esmagadora maioria são habitações que ficam vazias assim que os turistas as deixam.

A maior parte dos ALs está na mão de muito poucos

Percentagem de ALs cujos titulares registaram múltiplos alojamentos
First ImageFirst Image
0%
Percentagem de ALs registados por empresas
First ImageFirst Image
0%
Os pontos a magenta são ALs cujos titulares registaram de 2 a 10 licenças
Os pontos a vermelho são ALs cujos titulares registaram 10 ou mais licenças

A maioria dos ALs recebe turistas durante a maior parte do ano

De todos os anúncios ativos na Airbnb no Porto e em Lisboa, 49% têm pelo menos uma avaliação em 9 dos últimos 12 meses.

Alguns alojamentos poderão estar a receber turistas de forma ilegal

Apesar da lei estabelecer que é obrigatório indicar o número de registo na publicidade ao Alojamento Local, existem cerca de 2500 anúncios na Airbnb de Lisboa e do Porto sem especificar esse número, ou com um número que não costa da base de dados oficial.

Tal como noutras cidades, a plataforma poderia ser obrigada a validar que as propriedades que anuncia estão a operar legalmente.

Alojamento Local ou hotéis descentralizados?

Uma grande parte das licenças de Alojamento Local são feitas por empresas que não são proprietárias, mas são especializadas na gestão deste tipo de alojamentos. Com o objetivo explicito de ajudar os proprietários a rentabilizar os seus imóveis e a criar investimentos lucrativos, estas empresas fornecem um vasto leque de serviços como limpeza, decoração, gestão de reservas, contacto com clientes, organização de transfers, marketing e até estudos de rentabilidade.
Proprietário
Fonte: Liiiving
Serviços
Longe do espírito familiar e sem intermediários alegado por alguns defensores do AL, a gestão profissional destes alojamentos estabelece um verdadeiro modelo de hotel descentralizado por toda a cidade.

O que fazem as outras cidades?

Casa azulCasa verde
Em Barcelona, nenhuma das 10 mil licenças atualmente existentes na cidade será renovada, acabando na prática com todos os Alojamentos Locais até 2028.
Casa azulCasa verde
Em Londres, apartamentos podem ser alugados a turistas por um período máximo de 90 noites por ano.
Casa azulCasa verde
Em Paris, os proprietários podem arrendar as suas residências principais no mercado de alojamento local até ao máximo de 120 noites por ano. O aluguer de residências secundárias está praticamente proibida, podendo ser feita apenas se o proprietário compensar esse uso com a passagem de um outro espaço de uso comercial para uso habitacional.
Casa azulCasa verde
Em Amesterdão, o alojamento local está proibido em várias zonas da cidade, e nas restantes está limitado a 30 noites por ano e a grupos de no máximo 4 pessoas.
Casa azulCasa verde
Até em Nova Iorque, os proprietários só podem alugar quartos em apartamentos onde residam e têm de estar presentes durante o período de estadia. Para além disso, as plataformas são obrigadas a verificar que o registo do AL está válido antes de os poderem listar.
Casa azulCasa verde
Em Singapura, o alojamento local está proibido. Todos os arrendamentos têm um prazo mínimo de 3 meses.

O Alojamento Local foi idealizado como uma forma de acolher visitantes em pequenas escalas familiares. Mas nas grandes cidades, rapidamente mostrou a sua verdadeira face. Em vez de estimular o turismo de forma sustentável numa economia de partilha, tornou-se um negócio massificado e concentrado, muitas vezes controlado por empresas que operam como hotéis disfarçados. O resultado é claro: bairros inteiros convertidos ao turismo, enquanto os habitantes, que fazem da cidade  o que ela é, são empurrados para fora.

No contexto da gravíssima crise de habitação que vivemos, suspender apenas os novos registos é como fechar a torneira depois da casa estar inundada. O dano está feito, os centros das cidades já são pequenos parques de diversões. Já não basta conter, é preciso escoar, recuperando o direito à cidade de quem cá vive e devolvendo o espaço à habitação permanente. Nenhum anfitrião irá à ruína, há milhares de pessoas em busca de casas para habitar, que sejam abrigo depois do trabalho ou da faculdade.

Lisboa e Porto não podem continuar a caminhar no sentido do abismo. Felizmente, são muitos os exemplos de grandes cidades que optaram por limitar os alugueres de curta duração e devolver a cidade às pessoas. Lá, como cá, é preciso coragem e vontade política.